
Habitualmente eu não leio a revista de domingo do Globo porque poucos assuntos são realmente interessantes, opinião igual tenho a respeito de seus colunistas. O jornal chega e eu passo os olhos pela revista, faço a palavra cruzada, leio o Xexéu, vejo a previsão dos astros (ahahahahah...), de maneira teatral, para minhas irmãs e minha mãe – o que rende boas gargalhadas -, leio o que me chamar atenção e encosto a revista. Mas hoje, no passar de olhos me deparei com um artigo sobre as mulheres do Irã. O artigo foi escrito por uma jovem cineasta que estava no Irã num festival de cinema. E aí é que o bicho pegou. No texto ficou nítido que o padrão de vaidade para a menina é o padrão ocidental. Em vários momentos enfatizou que todas as mulheres, até mesmo ocidentais, eram obrigadas a usar o véu, mas era possível ver véus coloridos, corpos torneados por tailleur pretos e maquiagem por baixo do véu.
Tudo que é imposto é ruim, principalmente no que diz respeito a hábitos cultuais e costumes, entretanto fiquei me perguntando: será que o uso do véu tolhe mesmo a vaidade feminina? Será que a feminilidade está apenas em mostrar o corpo? É só isso que é ser mulher? Será que uma iraniana não poderia gostar de usar véu? Lembrei-me do filme Paris Je t'aime, uma coleção de curtas sobre a capital francesa. Um dos curtas enfoca o encontro de uma moça de origem árebe e religião muçulmana, que vive em Paris e um rapaz francês. Num dos momentos do diálogo entre eles a moça explica que não se sente obrigada a usar o véu, que na verdade ela gosta, é uma questão de identidade. Isso desmistifica a idéia de que as mulheres árabes e muçulmanas não querem ou não gostam de usar o véu – elas não gostam é daquilo que todas as mulheres também não gostam: a obrigação de seguir um modelo de comportamento.
É claro que a cineasta não se tocou, assim como o rapaz do filme não se toca quando diz que o cabelo da garota é lindo, que ela não deveria cobrí-lo, ao que ela responde com uma pergunta: então fico feia de véu?
Ter o modelo de vaidade e feminilidade ou comportamento ocidental como parâmetro a ser seguido é uma prisão igual à obrigação imposta por lei de usar essa ou aquela roupa.
* Link para o filme: Quais de sene - Paris Je t'aime
** Esse é um dos curtas que mais gosto e me amociona muito por sua delicadeza.
2 comentários:
Oi viviane!
Realmente nossa visão do que é beleza, do que é feminilidade é muito estreita e não tem lugar para o que é diferente. Na família do meu esposo as mulhesres são americanas e, no entanto, mulçumanas. Há uma fusão entre cultura ocidental e religião/fé. Elas vestem véu de forma diferente, mas o vestem e gostam muito. Por sinal acho-as sempre muito preocupadas com a aparência.
Um beijo grande!
P. S. : não consegui renovar meu domínio, então meu blog agora é www.retratosentido.blogspot.com
bjs
Oi, Carla! Que bom que vc está de volta. Pois é, uma visão estreitíssima mesmo. Como é que a pessoa não entende, não é?! É a cultura do outro, aquilo tem significado para ele.
No final das contas é um etnocentrismo do caramba: só é livre e feminina a mulher que se veste a maneira ocidental. Duvido muito que se o uso de véu fosse facultativo todas a iranianas abririam mão de usá-lo.
A questão da liberdade feminina em países slâmicos envolve a proibição legal de estudar, de trabalhar fora, de dispor de seus bens, estar subordinada a figura masculina (pai, irmão, marido ou filho mais velho), não poder escolher o próprio casamento. Ou seja, envolve problemas seríssimos de cidadania o que vai muito além da aparência.
Beijo grande pra vc também.
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