Nunca tive muita vontade de ir à uma Festa Ploc. O clima de nostalgia quanto a tudo que caracterizou os anos 80, incluindo músicas farofas tipo Ursinho Blaublau, ou sucessos infantis do Balão Mágico, Trem da Alegria e Bozo mais parecia um excesso de saudosismo. Entretanto, no ultimo fim de semana finalmente, rompendo todos os meus preconceitos fui a uma festa ploc no Circo Voador. Na verdade era o show de gravação do novo cd do Biquini Cavadão – novo cd contendo antigas canções... já deve ser o terceiro ou quarto, mas tudo bem, os caras mandam bem. Não estava com clima para diversão, na verdade não queria ver ninguém, falar com ninguém, conviver e interagir com ninguém, entretanto a companhia animada da minha irmã e do meu cunhado me animaram e eu fui a festa. Circo Voador lotado, um calor absurdo para uma meia noite ao ar livre, e o som do Biquini rolando. Não, não dá pra ignorar e cultivar o mau humor e logo me soltei ao som dos primeiros rits do rock n’roll brasuca oitentista. Legião, Plebe Rude, Paralamas, e os principais sucessos do Biquini, uma Catarse.
Depois do fim do show da banda principal, um tempinho de discotecagem, show do cover do Ranto Russo (o qual minha irmã chamou de "um morto muito louco") e a banda ploc. Muito legal a banda, tocaram cover de vários artistas pop da década de 80 (não, não teve Trem da Alegria, nem Xuxa, nem Bozo, nem Balão Mágico, ufa!!!) e nessa hora eu comecei a pensar: caramba, naquela época dava pra escutar rádio. É incrível, mas em pouco mais de 15 anos a cultura mudou tanto que hoje as músicas – se é que a gente pode chamar assim – que mais tocam nas FMs, são tão ruins, tão chatas que é impossível escutar rádio. Hoje, não existe poesia nas musicas, é uma prosa direta, desprovida de metáforas e recursos estilísticos e talvez, ouso dizer, de sensibilidade.
Minha irmã, depois que chegamos em casa, comentou que o rock nos anos 80 era muito mais irreverente e sacana. E era mesmo! Os temas eram diversos havia músicas de protesto, musicas existencialistas, musicas fazendo galhofa com a sociedade, músicas românticas mas com um romantismo mais real, ou melhor, mais possível. Hoje, ao contrário não existe música engajada, crítica social através da comicidade ou da sátira nem pensar, não sabem mais fazer isso equando fazem apelam para a grosseiria; existencialismo é quase uma palavra morta (ninguém sabe o sentido da coisa) as únicas temáticas a sobreviver foram o amor e o sexo, mas ao contrário de “antigamente” o objetivo é achar o amor de sua vida, ou discutir a relação, ou não se deixar abater por uma paixão. Ou seja, há uma destruição dos sonhos e fantasias a cerca do amor e do sexo, o que torna as músicas muito caretas e politicamente corretas de mais e imbuídas da ideologia predominante nos últimos anos da década de 90 do século XX e desta primeira década do século XI: o que se quer é segurança; não há lugar para sonhos ou fantasias; mas sobra espaço para ilusões e castelos da areia.
Lembrei de uma crônica que li,há alguns anos, do Joaquim Ferreira dos Santos, no Globo. A crônica falava que jovens cantoras e cantores estavam mais preocupados em demonstrar uma técnica vocal apurada e, principalmente as cantoras, em gravar canções em que deixassem claro que não se abalavam com as dores do coração. Por coincidencia, outro dia li numa revista que pouquissimas cantoras atuais são influenciadas por uma das vozes mais expressivas e viscerais da MPB : Eliz regina; ou pela força vocal e interpretação marcante de Clara Nunes (maravilhosa!). A última cantora a levantar o público e se apresentar de forma irreverente (e bota irreverente nisso!) foi Cassia Eler, morta no final de 2002 (eu acho), mas que também teve como bagagem cultural a herança pop dos anos 70 e 80. Hoje, são todas (ou quase todas) vozes contidas e marcamente afinadas.Sentimento zero, assepcia total.
Deve ser por isso que as festas ploc, mesmo quatro anos depois de seu surgimento (mais ou menos), ainda sobrevivem na noite, e agrega um público variado, desde pessoas entre trinta e quarenta e cinco anos (que eram adolescentes, jovens, ou crianças nos idos dos anos 80, e por isso a festa ploc é uma cartase e tem um significado afetivo muito forte), até o público mais jovem entre dezoito e vinte e poucos anos, aliás acho que essa faixa etária era hegemônica no Circo na note de sábado. Falta paixão, bom humor e leveza tanto à mùsica pop, quanto à mpb - não vou falar do rock, porque o cenário é mais deprimente ainda, pelo menos no mainstreem.
Em meio a todas essas elucubrações lembrei-me da última vez, antes desse sábado, que fui ao Circo Voador – no lançamento de um dos números da extinga revista Mosh!, um fanzine independente – quando escutei Wander Wildner cantar Um lugar do Caralho!, do Jupter Maçã (alguns dizem que essa música é do Razito, mas eu duvido). Nada mais a calhar e na contramão da caretice que reina hoje.
Então, lá vai a musica:
Eu preciso encontrar
Um lugar legal pra mim dançar
E me descabelar
Tem que ter um som legal
Tem que ter gente legal
E ter, cerveja barata
Um lugar onde as pessoas sejam mesmo a"fudê"
Um lugar onde as pessoas sejam loucas e super chapadas
Um lugar do caralho
Sozinho pelas ruas de São Paulo eu quero achar alguém pra mim
Um alguém tipo assim:
Que goste de beber e falar,
Lsd queira tomar e curta
Syd Barrett e os beatles
Um lugar e um alguém que tornarão-me mais feliz
Um lugar onde as pessoas sejam loucas e super chapadas
Um lugar do caralho
Um lugar do caralho
Sozinho pelas ruas de São Paulo eu quero achar alguém pra mim
Um alguém tipo assim:
Que goste de beber e falar,
Lsd queira tomar e curta
Syd Barrett e os beatles
Um lugar e um alguém que tornarão-me mais feliz
Um lugar onde as pessoas sejam loucas e super chapadas
Um lugar do caralho
Lugar do caralho
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