
Uma lembrança que tenho das festas carnavalescas na minha infância é o desfile das escolas de samba. Nós íamos para a casa da minha avó e meu avô e lá passávamos a noite assistindo as escolas – quer dizer, eles assistiam, nós, as crianças, dormíamos na segunda ou terceira escola. Minha avó preparava petiscos e ficávamos até tarde na noite vendo tv, comendo os petiscos com refrigerante ou limonada, enquanto ela e meu avó bebericavam sua cervejinha. Às vezes, íamos ao coreto, mas sempre voltávamos cedo para assistir às escolas de samba. Esses acontecimentos já tem mais de vinte anos.
Esses acontecimentos já têm mas de vinte anos e hoje, já não fazemos mais esses ajuntamentos para assistir o desfile pela tv - mas o hábito de dar uma espiada, pelo menos na minha escola do coração, a Portela, ficou. O desfile de escolas de samba mudou muito e hoje é um show que mobiliza milhões de reais, centenas de pessoas, e está cada vez mais luxuoso e mais distante das antigas escolas de samba, identificada a uma comunidade de um determinado bairro.
Se antes a rainha da bateria era uma integrante da escola, hoje é um atriz ou modelo esquelética, que não sabe sambar. O samba perdeu aquela cadência lenta que dava espaço para o puxador cantar o samba, e ganhou uma cadência rápida, elétrica, como os tempos em que vivemos, as letras também perderam a poesia – poesia não é coisa de literato, é coisa de gente sensível que sabe observar e sentir. Os carros alegóricos estão cada vez maiores, mais sofisticados, cheios de coreografia e novidades eletrônicas, as escolas são tão grandes e cheias de alas e integrantes que as pessoas não conseguem evoluir na avenida, passam em fila e correndo para não atrasar o desfile.
Eu me pergunto, onde está o espírito do carnaval, o espírito das antigas escolas de samba, a vontade de sambar e defender na avenida sua agremiação? Onde isso foi parar? As pessoas ainda trabalham com amor, com dedicação, mas o carnaval das escolas de samba perdeu o idealismo de outrora.
Tudo muda nesse mundo, para o bem ou para o mal, tudo muda. Lutar contra as mudanças é lutar contra o próprio movimento da vida, e algumas tradições têm de morrer, para dar espaço a outras, ou acabam se transformando para não morrerem, entretanto sempre perdem um pouco de sua essência. Isso ocorre de acordo com a sociedade e seus anseios e embates. O carnaval das escolas mudou, cresceu, virou um negócio, mas meu coração saudosista sente falta da simplicidade de outros tempos.
* Não tenho bem certeza, mas acho que foi após a construção do Sambódromo, na década de 80, que o desfile das escolas de samba começou a se tornar o negócio que é hoje.
foto: http://www.marciomelo.com/ImaginezBresil/indexportugues.htm
2 comentários:
É Vivi1 o carnaval de agora não é mais como era o de antigamente. Eu curto carnval de rua, a minha agremiação tem muitos nomes ... Arranco do Engº de Dentro, Viradouro, Unidos da Tijuca, são clemente.... ui q balaio...srrsrsr
Mas é assim eu não assisto só fico sabendo, cuido só para não falr muita bobagens sobre carnaval e brincar só for com um grupo de amigos .
Beijocas
Viviane,
Suas lembranças são muito parecidas com as minhas. Até uma simpatia gratuita pela Portela eu sempre tive. Meus pais são salgueirenses e eu também sempre dormia muito antes do meio da noite, mas curtia aquela agitação em casa...
Postar um comentário