27.2.09

MST - na pressão


Ouvi falar pela primeira vez do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, em 1996, por conta do massacre em El Dourado dos Carajás, Pará. Desde então ouço uma série de críticas, desde aquelas embasadas na manutenção do estado de Direito, da ordem, do direito a propriedade, até aquelas inspiradas no senso comum – “eles são baderneiros”!

O que essas últimas não entendem, e as primeiras entendem muito bem e não podem admitir é que a situação no campo é de guerra! O que ocorre ali é uma luta entre grandes proprietários de terra e pessoas que não tem nada ou que tinham algo mas lhes foi tirado por grileiros a serviços de grandes proprietários, os quais geralmente são políticos ou tem estreitas relações com a política local. A luta é pela sobrevivência, pelo direito de ter seu lugar, seu pedaço de terra para viver, uma luta pela dignidade. Só entende quem sempre viveu na terra, quem sempre viveu da terra.

O senso comum me irrita, porque se baseia no desconhecimento, ou no conhecimento parcial dos fatos através do discurso da elite veiculado através dos meios de comunicação de massa como as grandes redes de TVs e jornais diários e revistas semanais. Entretanto me irrita mais as declarações do senhor Gilmar Mendes, o grande representante das elites no Supremo – pois é, até se Gilmar Mendes tiver flatulências (soltar gases, vulgo: peidar), a globo noticia – de que as invasões ferem o direito de propriedade. É claro que fere! Fere o direito dos grandes proprietários acumularem mais e mais terras para pasto de bois ou cultivo de soja para exportação; o direito dos grandes proprietários de grilar a terra dos pequenos proprietários; o direito da bancada ruralista de legislar a seu favor e o direito de chacinar quem cruzar seu caminho.

A propriedade está no centro das relações de poder e força no campo, por isso o “direito a propriedade”, evocado por Gilmar Mendes, enseja todos esses outros “direitos”, no meio rural.

O engraçado é que só existem criticas e promessas de punição nos termos da lei, para quem está do outro lado da cerca, o lado do movimento social, mas é exatamente pelas injustiças e desigualdades sociais que o movimento social existe, pois esse mesmo direito e justiça evocados pelo sr. Mendes, tem negligenciado apoio aos pequenos proprietários, quando esses são atacados pelos grandes e seus correligionários. Então, pergunto ao senhor juiz: onde está a tão evocada e adorada espada da justiça que o senhor empunha com tanto orgulho e empáfia, quando se trata de usá-la a serviço de quem realmente precisa dela? Onde está ela quando pistoleitos chacinam familias inteiras? Até hoje este senhor só a tem utilizado em favor de corruptos formados pelo MIT, ou para dar declarações demagógicas a jornais conservadores e elitistas.

Só quem vive no interior do Brasil, sabe que a questão da terra é de vida ou de morte. Que a luta é diária e que se não fosse a estratégia das invasões, o MST não teria a força política que tem hoje. A invasão é uma ação radical sim, é a forma de fazer pressão política sobre as autoridades para que a reforma agrária seja executada de alguma forma ao invés de ficar apenas no papel. Mesmo estando sob um governo que apóia os movimentos sociais e envia verbas as cooperativas do MST, ainda existe muito o que se fazer no campo no sentido que haver uma distribuição de terras mais justa e ao contrário do que o exc. juiz afirma levianamente a respeito do MST, o movimento é bem organizado contando com o apoio de diversar organizações da sociedade civil, incluindo a Pastoral da Terra, ligada a igreja católica, em seus acampamentos há escolas com um programa totalmente adquado a vida no campo, e há diversar coopertivas que deram certo. Ou seja, não estamos falando de um movimento acéfalo, com o único objetivo de tumultuar. Muito pelo contrário, o objetivo está explicito: promover a reforma agrária!

Toda a discussão veiculado pelos jornais sobre o incidente entre jagunços e sem terras em Pernambuco durante o Carnaval e a polêmica em torno do apoio financeiro dado pelo governo as cooperativas do MST, tem o objetivo de atacar o governo de desqualificá-lo perante a sociedade - quem sabe, talvez, porque 2010, ano eleitoral, se aproxima.


* Mais informações sobre o MST em sua página: http://www.mst.org.br/mst/home.ph



2 comentários:

Zerfas disse...

Há luta hermana!!!!
Infelizmente o povão é povão mesmo, para a maioria MST é sinonimo de bagunça no noticiario nacional, eles não vêem a diferença desta luta pelo direitoa da terra dos donos que roubam a terra. O povão é cego surdo e mudo, apolitico anacronico e só entende a individualidade da copia do vizinho. Enquanto isso os "Governantes" fezem um governo para o bolso deles: terras divisas e capital.

Romanzeira disse...

Ester, o que pensa o povão me irrita menos que as declarações de um Gilmar Mendes da vida. Você já percebeu o espaço que sujeito alcançou na mídia desde a operação Satiagraha. Ele é tratado como o grande paladino da justiça e do Estado de direito. Entretanto tem as opiniões mais reacionárias e conservadoras possiveis.
Esse episódio com o MST em Pernambuco está sendo usado pela mídia para atacar o governo que destina verbas a cooperativas do MST.