22.7.12

"Camille Claudel"

A primeira paixão é certamente avassaladora, um sentimento incomum de plenitude. A primeira vez em que se está apaixonado nunca será igual a nenhuma outra. Isso não quer dizer que nunca mais a pessoa vá se apaixonar – após o primeiro impacto, o fim da paixão, ou o abandono, descobre-se uma nova paixão e assim sucessivamente –, mas sim, que a primeira paixão marca. Porém, nem todo mundo supera o fim, nem todo mundo se liberta.
Essa divagação toda foi porque acabei de assistir “Camile Claudel”, filme francês de 1988. Camille foi uma escultora francesa que definhou por conta de sua paixão por Auguste Rodin, também escultor de destaque da França do fim do século XIX, uma paixão que virou obsessão e levou-a a loucura.
O filme é bom. Até mais ou menos a metade eu achei meio morno, só mostrando como se construiu o romance de Camile e Rodin. Mas a partir da metade, justamente quando se inicia a decadência de Camille, o filme cresce e consegue transmitir ao público toda a angústia da personagem em seu doloroso processo de insanidade. A tentativa de amigos em resgatá-la através da valorização de sua obra, o afastamento da família e por fim a ruína total e a internação num asilo, onde ela ficaria por 30 anos, até sua morte em 1943. Permeando sua decadência há a obsessão por Rodin, a quem ela acusava de querer roubá-la e tentar prejudicá-la a todo custo.
Essa obsessão não se relacionava apenas ao término de seu romance com o escultor, de quem foi aluna e posteriormente assistente, mas também pelo fato de a opinião pública da época insinuar que várias de suas obras eram na verdade de autoria de Rodin, quando na verdade era o contrário, especula-se que muitas das obras atribuídas apenas a Rodin, teve participação efetiva de Claudel. Outro ponto importante é a dificuldade de se inserir no mercado de arte entre o fim do século XIX e o inicio do XX, um espaço, como tantos outros espaços públicos de então, destinado e dominado por homens. Sua loucura parece expressar a dor do abandono e da rejeição que somou-se à ânsia de se firmar e mostrar seu trabalho, sua arte.
Apesar dessa obsessão, segundo o filme, Rodin, por baixo dos panos, era uma das pessoas que a apoiava. Não dá pra saber até que ponto isso é verdade, apesar desse filme ser baseado na biografia escrita por uma sobrinha neta de Claudel. Um filme é um filme, apesar de versar sobre pessoas reais, como no caso de “Camille Claudel”, nem sempre os roteiros mantém-se fiéis a vida real de tais pessoas, suprimindo determinados detalhes e explorando mais outros.
De maneira geral é um filme bom, embora não seja nada de tirar o fôlego. Isabelle Adjani, além de linda, é uma atriz talentosa. Gerard Depardieu, além de talentoso, está muito gato como Rodin – ah, adoro homens grandes e fortes, ehehe.
O filme tem obviamente um final triste e comovente e nós nos perguntamos: “como é possível uma artista tão talentosa e expressiva, entregar-se a loucura?” “Como é possível uma paixão ser tão devastadora a ponto de enlouquecer uma pessoa brilhante?” Triste, mas aconteceu sim.

País: França, 
Ano: 1988
Duração: 164 min
Direção: Bruno Nuyten

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