10.10.10

Relações ordinárias...

Ontem assisti um filme muito bacaninha, que rolou há alguns anos nos cinemas, chamado "Alguém que me ame de verdade". O título sugere uma comédia romântica xaroposa, mas na verdade, ele conta a historia de maneira muito leve e delicada, da amizade duas jovens, uma muçulmana e outra judia ortodoxa, que vivem em Nova York. Ambas moram com suas famílias e lecionam para a turma da antiga 4ª série numa escola onde há de um tudo, alunos negros, brancos, deficientes, espanicos e etc... O filme aborda questões com a dificuldade das duas serem amigas visto que a família de Rochel, a garota judia, não admite que ela tenha uma amiga muçulmana; as dificuldades de pessoas que vivem sob um código cultural tradicional têm em ser compreendidas e aceitas em um mundo com valores liberais; e a angústia dos casamentos arranjados, hábito comum entre um grupo étnico e outro. Entretanto o clima é tranquilo, aproxima a história de um contexto mais realista, mais normal, sem dramas homéricos e principalmente sem cair em estereótipos, e eu achei muito legal colocar o lado das pessoas que vivem em grupos mais tradicionais, mostrar como eles vivem, como vivem e principalmente mostrar que muitos muçulmanos ou judeus ortodoxos são felizes dentro dos padrões criados pelo grupo. Uma das passagens que isso fica muito claro é quando Rochel discute com a diretora da escola, também judia, por conta de uma superstição. Ela questiona exatamente o motivo de tudo quanto é tradição ser encarado como algo menor, como algo desprovido de valor. Guardadas as devidas proporções, a queixa de Rochel é legítima. Por exemplo, hoje uma mulher com mais de 15 anos virgem é um animal exótico! E começa-se a especular os motivos pelos quais a menina ainda não transou, tornando-a até motivo de chacota. Há muitos anos atrás era exatamente o contrário, a mulher que não se casasse virgem, que exercesse plenamente sua liberdade sexual, dispusesse como bem entendesse de seu corpo, era vista como uma piranha (ainda hoje, muitas vezes, é).
No final das contas a mensagem que fica é que o bom da vida é a liberdade de decidir o que você quer ser, como você quer viver, livre de rótulos ou de condutas ideais, ou esperadas.
Esse filme me lembrou muito uma coisa que aconteceu comigo há uns meses atrás. Minhas tias, da parte da minha mãe, entraram numa de me arranjar um namorado. Elas ficaram armando encontros entre eu e os pretendentes que elas achavam "bons partidos", mas que na maioria das vezes eram caras toscos e muito velhos. Ou seja, elas queriam um provedor, um homem que pudesse me sustentar e proteger. Isso me incomodou bastante - na verdade me emputeceu bastante! Primeiro eu nunca pedi a ninguém me arranjar um namorado. Segundo, essa coisa de um protetor, um provedor, não preciso disso, eu trabalho, me sustento, o único homem que tem alguma obrigação em me sustentar é meu pai e olhe lá! E terceiro, a parte mais importante, essa idéia de que a mulher precisa de um homem, e precisa ser sustentada, é o meior exemplo de pensamento machista em relação a mulher e é incrível que as próprias mulheres ainda reproduzam esses valores e esse sentimento de dependência em relação aos homens - por mais que seja independete, ela precisa de alguém, precisa de um homem do lado, ainda mais quando ela já passa dos trinta e já se formou. Teve uma passagem do filme que as tias de Rochel, a garota judia, dizem isso com todas as letras. Foi nessa hora que eu me lembrei das minhas tias. Elas nunca disseram isso, mas elas com toda certeza pensam isso. E o que me assusta é que isso parece ser uma bola de neve que não nunca se desfaz. A mulher esta sempre se colocando numa posição de inferioridade, sempre submissa, dependente, sempre esperando que um homem a levante, a guie, a sustente, cuide dela, mesmo em um mundo onde as mulheres já conquistaram inúmeros direitos. E por que? Por uma convenção social? Por oportunismo?
Sabe o que eu penso? Não sei se todo mundo precisa mesmo de alguém, mas acho que quase todo mundo, independente de ser homem ou mulher, em algum mometo da vida, quer alguém. Quase todo mundo quer alguém, mas nem todo mundo está em desespero por encontrar alguém, porque ter alguém é algo mais que alguém dormindo contigo, acordando contigo, transando contigo e pagando tudo pra ti. Ter verdadeiramente alguém, é ter companhia, é gostar de dividir a vida, os bons e maus momentos, é sentir vontade de estar com essa pessoa porque, simplesmente, a presença dela te faz bem. Isso não acontece toda hora, isso não acontece quando se procura. Na verdade, na maioria das vezes, acontece inesperadamente. É esse tipo de sentimento, é esse tipo de relação, eu quero para mim, não apenas cumprir o "papel" social de ser mulher numa sociedade ocidental e machista como a nossa e procurar um macho que me dê segurança, tendo como critério de escolha a conta bancária, ou o caro que o indivíduos possui. Como escreveu Anais Nin "me recuso a ser uma mulher ordinária, vivendo relações ordinárias"! Sim, recuso-me a viver relações medíocres e ordinárias, apenas porque é o que a sociedade espera de mim! Quero relações intensas, verdadeiras, que nasçam da minha vontade, do meu desejo.

3 comentários:

Sâmia disse...

Eu preciso de um homem que cuide de mim. E não há machismo nenhum nisso. Penso que o discurso da total independência da mulher em relação ao homem, esse discurso feminista, é ideológico, formulado segundo determinados interesses, e reproduzido indiscriminadamente por encalhadas, mal amadas e quetais.

Sobre o filme, lembro que quis muito assistir quando passou nos cinemas, mas não consegui. Obrigada por me lembrar dele. Vou tentar baixar.

Beijos!

Romanzeira disse...

Olha, Sâmia, eu também não concordo com o discurso feminista, não. Aliás, acho até meio hipócrita, porque conheci muitas mulheres ultra feministas, mandonas e dominadoras, mas na hora de rachar despesas, por exemplo (não rachar a conta, pois isso é gentileza, me refiro a dividir despesas domésticas mesmo), o discurso da igualdade entre os sexos ia pro beleléu! Na hora de rotular essa ou aquela de "piranha" porque tem um comportamento sexual mais liberal, eram as primeiras a fazer coro e atirar pedras. Ou seja, o tal feminismos que elas professavam era apenas até a pagina 5.
Agora, o extremo oposto, essa história de que "eu preciso de um homem do lado, se não, não sou uma mulher completa, não terei o respeito da sociedade" ah, isso é muito triste, porque ter namorado ou marido, torna-se uma obrigação, e mais, torna-se fator de valoração na sociedade. Ai é que o bicho pega.
Todo mundo quer alguém, o problema é quando achar aguém torna-se uma obrigação, porque você se sente velha e já é hora de achar um marido; ou quando esse alguém tem que ter isso ou aquilo, tem que ser "bom partido".
Não sei se eu quero alguém que cuide de mim, não, eu quero alguém que me ame, que me deseje, que seja meu amigo, meu parceiro, meu cúmplice. Assim, um coida do outro.

bj.

Vi disse...

Quero ser cuidada, desde que o homem se permita ser cuidado em igual medida.Pessoas que se consideram muito fortes, muito auto-suficientes, assustam.Uma hora explodem. O problema com essa coisa da "proteção masculinha" é justamente a ausência de um companheirismo equilibrado. Considero isso tão doido quanto o discurso feminista que só falta dar uma sivucada e dizer que homem bom é homem morto, ou de batom. Equilíbrio nas relações, Iinvenção de regras próprias do casal... Isso sim é liberdade, e cada um inventa a sua.