7.8.10

Lendas e Mistérios do Rio...


Terminei de ler há algumas semanas o livro Tesouros do Morro do Castelo - Mistério e história dos subterrâneos do Rio de Janeiro, de Carlos Kessel. Não preciso dizer que fiquei fascinada, pois tudo que se relaciona com o passado do Rio me atrai. “Tesouros...” é um livro pequeno e fininho se comparados a outras obras historiográficas. Versa sobre uma antiga lenda que povoou o imaginário dos cariocas, desde os tempos em que os jesuítas foram expulsos do Rio (1759): a de que os jesuítas teriam deixado para trás um grande tesouro no subsolo do Colégio dos Jesuítas, cede da Cia. de Jesus no Rio. O subterrâneo do Colégio abrigaria amplos salões e galerias as quais os ligariam entre si e que também funcionariam como saídas secretas que ligariam o Colégio a outros pontos da cidade. Nestes salões, os jesuitas teriam escondido o capital acumulado pela Ordem no Rio; com a repentina expulsão ordenada por Pombal, em 1759, esse tesouro teria ficado escondido e esquecido.
A viajem de Kessel pelo pelo imaginário do Rio Antigo, começa com um bilhete de Nominato José de Assis, um advogado mineiro, datado de 1863, solicitando ao marques de Olinda que interviesse junto às autoridades imperiais para que lhe fosse consedida permissão para levar adiante uma empreitada: escavar o subterrâneo do Morro do Castelo, com o objetivo de achar o tesouro deixado pelos padres jesuítas. A partir de então, o autor nos guia numa viagem que vai desde o século XVIII, quando os jesuítas são expulsos por Pombal, até a reforma urbana de Carlos Sampaio, em 1922, que terminou com todo o morro do Castelo. Nesse trajeto através do exame e cruzamento variados tipos de documento Kessel narra como tal lenda se construiu no imaginário coletivo dos cariocas entre o fim do século XIX e início do seculo XX.
É um livro delicioso, com uma escrita leve que instiga a imaginação do leitor comum – impossível não ficar intrigado com a história de uma lenda que, a medida que o autor vai apresentando as “pistas” de sua “investigação”, bem como os “personagens”, torna-se cada vez mais envolvente despertando a curiosidade do leitor levando-o a torcer para que ao menos uma moeda de ouro fosse encontrada, ou mesmo algum dos salões, ainda que desde o início fique claro que trata-se de uma lenda. Além disso, o livro é cheio de glosas que explicam ou esclarecem um pouco mais sobre personalidades políticas e intelectuais da época, lugares, acontecimentos, monumentos e publicações; ao optar pela glosa, o autor deixou o livro mais dinâmico pois o leitor não precisa consultar tantas notas de roda ao pé, nem no final do livro, ele pode ler o cometário ou explicação no momento em que leu sobre determinado assunto de que trata a glosa. A presença de imagens por todo o livro e não somente numa pequena parte ajuda dar uma dimensão material da época que está sendo investigada – os lugares dos quais o livro fala, documentos e personalidades ganham uma certa materialidade, ao tornarem-se visíveis, saindo assim do terreno da imaginação e da abstração. Esse conjunto de elementos faz com que a leitura seja mais fluida e evita o academicismo sem, no entanto, cair na velha armadilha de tentar romancear a escrita da história, o que muitas vezes resulta em arestas soltas e numa sensação de superficialidade. Ao mesmo tempo, o livro dialoga também com o público acadêmico ao expor o embasamento teórico que guiou a pesquisa e a maneira como o autor dialogou com as fontes, o próprio tema explorado, uma otima leitura principalmente para os alunos de graduação que estão dando os primeiros passos na pesquisa. Ou seja, é um livro fluido, leve, gostoso de ler, mas sem superficialidades, conseguindo comunicar os resultados de uma pesquisa muito bem feita, bem amarrada, de forma compreensivel ao público comum.
Para finalizar, o acabamento do livro é muito bonito. O projeto gráfico da capa mescla partes de fotos, mapas e imagens pintadas do Rio Antigo, o miolo é em papel couché, e a diagramação (distribuição dos elementos nas páginas), tanto da capa quando do miolo, é perfeita tornando a leitura bastante agradável.
Em fim, para os apaixonados pelo Rio e para aqueles que querem conhecer mais sobre a cidade, ou mesmo para aqueles que adoram contar ou escutar um conto, ou, ainda, para aqueles que curtem descobrir como surgem as idéias, Tesouros do Morro do Castelo é diversão garantida.

Tesouros do Morro do Castelo
103 paginas.
Carlos Kessel
Jorge Zahar Editor
Rio de Janeiro, 2008.

9 comentários:

Klenio disse...

Eu já li as matérias da época e as cronicas (agora esqueci o nome) do escritor que trabalhava à época. É engraçado.

Zerfas disse...

Flor !
Antes de mais nada quero parabenizar pelo novo layout do blog que ficou muito bonito, com a barra lateral transparente com o fundo a maquina fotografica.
Muito show!
Segundo pela indicação literaria sempre de muita boa qualidade!!
Beijos grandes e saudade

Zerfas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sâmia disse...

E então, tinha tesouro ou não tinha? Adoro histórias de tesouros enterrados! hehhehe
beijo

Romanzeira disse...

Klamber, talvez vc tenha lido as cronicas de LIma Barreto. Ele foi um dos poucos a ir contra da derrubada do Morro do Castelo.

Romanzeira disse...

Ester, obrigada mas somente a logo, essa parte que fica aí em cima com as fotos e o nome do blog, foi idéia e trabalho meu. O layout do blog é dos oferecidos pelo blogger agora, ou seja, é algo padronizado. Vc certamente entrará em algum outro que tera o mesmo layout que o meu.

Leia esse livrinho. Ele é muito legal!
bj.

Romanzeira disse...

Samia,

kkkkkkkkkkkkk... não conto mesmo!!!! rsrsrs Eu até te empresto o livro, mas não conto o final.

bj.

Sâmia disse...

Ai, que sem graça você! hehehehe
ó, precisamos conversar um cadinho. vamos ver se nos encontramos online qualquer dia desses no msn. ou, e-mail.
beijo.

Romanzeira disse...

Ok, devo entrar no msn hoje a noite. Passar por lá.

bjim!