
Não gosto de filmes biográficos, eles tem a inclinação de glamourizar a vida das celebridades, as vezes inventam pessoas, personagens que nunca existiram, mas como ultimamente há alguns filmes biográficos bem interessantes - como o maravilhoso Piaf, sobre o qual ja comentei aqui - eu assisti ontem, via utorrent, "Coco antes de Chanel" (Coco avant Chanel). Detesto o mundo da moda, essa coisa de mulher esquelética e a glamourização da mulher que resulta num "modelo" a ser seguido me irrita profundamente, entretanto não posso dizer que sou indiferente ao mundo da costura e vestuário, muito pelo contrário, gosto de costura e tudo que tem a ver com criação, combinação de tecidos, texturas e estilos. Por isso fiquei curiosa em saber como era a vida de um dos maiores nomes da moda do século XX - ah, a criadora da máxima seguida por quase todas as mulheres pelo menos uma vez na vida: o "pretinho básico", e eu adoro roupas pretas!
O filme é bom e não fala nada de moda, ou do mundo da moda. Trata, como o nome já diz da vida de Gabrille Chanel antes de tornár-se a grande estilista, mas sem glamour algum, nem mesmo a máxima norte americana do "make myself". E essa é a grande sacada do filme, pois explora as poucas opções de vida da mulher no início do século XX.
Chanel, antes de tornar-se um mito, é uma mulher como tantas outras do início do século XX, pobre, sem pai, marido ou irmão, pois naquele tempo a mulher para ter espaço na sociedade, para ter no mínimo respeito deveria estar amparada por um homem. O que restava às mulheres pobres, orfãs de pai, sem irmãos ou marido, era arranjar logo um marido, dedicár-se a profissões como costureira ou empregada doméstica, ou a vida noturna que geralmente levava a prostituição. Até mesmo para mulheres pertencentes a classe média, as opções de trabalho eram limitadíssimas, sendo aceito apenas o trabalho como professora, e somente até o momento em que ela se casava. A educação dirigida a mulher era apenas para da a ela um verniz "cultural", torná-la "culta" para freqüêntar a sociedade, mas nada que pudesse ser levado a sério como profissão. O mundo do trabalho era exclusividade dos homens. Então, imaginem qual era a margem de mobilidade para uma moça pobre sem pai, nem mãe? Como qualquer outra mulher pobre daquela época é cavando oportunidades e tendo um homem por perto, como um "protetor" que Chanel vai traçando seu caminho. É de chorar a cena em que Chanel insiste que não quer alguém que a sustente, mas sim um trabalho. Alí não se vê o mito, mas uma pessoa lutando pela sobrevivência, lutanto por um lugar na vida, não qualquer lugar, ma um lugar seu - e essa poderia ser qualquer mulher. Com a ajuda financeira de um de seus amantes Chanel abre sua primeira loja e progride nos negócios.
Ao mesmo tempo que mostra toda as dificuldades da mulher na sociedade da bele époque, mostra também a forma como o conceito de vestuário, posteriormente lançado por Chanel, vai se formando. Através da observação e da mescla de conforto, liberdade, valorização de elementos da vida cotidiana, do íntimo, do pessoal, forma-se um conceito de vestuário em que menos e sempre mais e se associa conforto com elegancia, substituindo a ostentação, as amarras dos espartilhos, a obrigação da mulher se mostrar sempre bonita e enfeitada para os olhos masculinos e não bonita, elegante e confortavel para agradar, antes de mais nada, a si mesma.
Apesar da insossa Audrey Tatou - pois é, não gosto dessa atriz, ela tem um ar meio arrogante, de quem está de saco cheio de tudo, que me irrita - o roteiro é muito bom, a fotografia em tons amarelados marca ainda mais o período em que a história se passa dando um tom de delicadeza, e ao mesmo tempo opressão, e por vezes um leve desencanto, ao filme.Gostei muito do filme porque, em certa medida, humaniza um mito ao contextualizar socialmente a personagem de Chanel e explorar esse contexto e os conflitos presentes nele de forma muito sutil. Porem, em termos de roteiro, e emoção, Piaf ainda é o meu filme biográfico preferido! rs...

2 comentários:
Vivi!
Tava pra te falar que assisti o filme em casa e tb gostei muito, ao ponto de ir pesquisar um pouco mais sobre a vida de Gabrielle. Posso lhe dizer que ela foi revolucionaria a sua medida, tanto na custura, quanto nos modos e no estilo espirutuoso de pensar diferente das mulheres de seu tempo. Retirou todas as plumas e paetes, anagoas, espartilhos apertadisssimos, babados e inumerados rodas de saias. Criou uma identidade na forma de vestir femenina q ainda reina - que passa pelo corte "chanel", bolsa "chanel",saia"chanel"- não só expressões que vem da propria criadora mas que se mantem como molde de corte ate hj. Ela criou o preto basico na epoca em que as moças andavam de tons pasteis ... acho que se ela não fosse empreendedora com espirito revolucionario nada teria acontecido.
è isso
Na verdade, Ester, a figura de Chanel é meio turva. Ela passou por um período de ostracismo, por conta de suas ligações perigosas com oficiais do III Reich, até os anos 60, quando caiu nas graças de Jack Kenned. E foi nos anos 60 que vestidos soltinhos, o preto e os cortes retos ficaram na moda, justamente no contexto do liberlismo feminino, numa época em que as mulheres da classe média estão ingressando macissamente no mercado de trabalho e tal...
Não sei até que ponto a gente pode chama-la de "revolucionária" - ah, esse título eu reservo para grandes mulheres! -, agora, é inegável que ela tinha tino para negócios e grandes idéias a respeito do vestuario feminino.
E o filme é muito bacana, bem feito, sem os vícios do cinema biografico norte-americano.
Agora, é como escrevi no final, em matéria de roteiro e emoção Piaf dá de mil a zero!
bjo.
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