1.9.09

Back to Black

Semana passada teve lugar na antiga estação da Leopoldina o festival Black to Back, com a proposta de discutir a cultura negra e todas as questões que isso implica. O evento foi amplamente divulgado por jornais diários e emissoras de TV, tido como um grande marco na valorização da cultura negra no Brasil. Francamente fiquei decepcionada e na dúvida quanto ao propósito ao ver o preço dos ingressos: R$ 60,00, shows; R$ 80,00 shows e conferências; R$ 130,00, combo de 2 dias de conferência; e R$ 160,00, combo de 3 dias de conferência; meia entrada para estudantes e professores da rede publica.
A questão não é apenas o valor - que está alto sim! -, mas sim o fato do evento ser pago. Um festival que "celebra a África como berço da civilização e pólo de discussão política e difusão cultural", que tem por objetivo "promover encontros", deveria ser gratuito, principalmente num país como o nosso onde a maior parte das população é negra ou mestiça e a maior parte dos pobres composta por negro e mestiços. Não dá pra pensar sobre a cultura Africana sem tocar em questões políticas, culturais e sociais presentes aqui no Brasil, e sem relativizar o próprio conceito de "cultura negra". Entretanto a discussão, mais uma vez, permaneceu fechada dentro de uma elite intelectual sem romper essa fronteira e chegar a quem realmente interessa, as pessoas comuns, aos negros e mestiços que provavelmente compõem mais da metade dos transeuntes que cruzam diariamente na Leopoldina, mais da metade dos alunos da rede publica de ensino do rio de janeiro. Entretanto nem os transeuntes, nem os alunos de escola pública poderiam assistir uma conferência, se quisessem, ou simplesmente assistir as exposições, quiçá os professores!
Conhecimento que não chega a sociedade é conhecimento estéril e tende a morrer sem florescer, ou dar frutos podres. Este festival serviu apenas como vitrine para os artistas que dele participaram, e para uma elite intelectual que se pensa de vanguarda continuar com seu discurso demagógico a respeito da tal "cultura negra", mas não contribuiu em nada para acabar como o preconceito racial e a discriminação que existem em nosso pais. Lamentável...

6 comentários:

Ciro disse...

Um evento desse assunto ser pago (e ainda caro desse jeito), fica um tanto quanto suspeito também.

Desse jeito, a gente VOLTA pra onde estava mesmo: à ESCURIDÃO ("Back to Black").

Haline disse...

Eu entendi que estudantes/professores e engajados na causa não pagavam. Mas de repente entendi errado.

Romanzeira disse...

Oi Aline! Na página do evento (http://www.backtoblackfestival.com.br/) diz apenas que estudantes e professores da rede pública têm direito a meia entrada, mas pelo caráter do evento ele deveria ser gratuito.

Oi Ciro! Pois é, desse jeito, com toda certeza voltaremos a escuridão de idéias.

sobroumparafuso disse...

Back to Black, pra mim, é aquele álbum do AC/DC. Consciência negra é o cacete, o negócio é business, business $$.

Romanzeira disse...

Parafuso, eu acredito na importancia dos movimentos sociais, mas esse festival, realmente não teve caráter de movimento nem social, nem cultural, me cheia a "business, business $$$", mesmo. rs...

Carla S.M. disse...

Também fiquei decepcionada agora. Não tinha idéia do "precinho". Faço minhas as suas palavras. Belo evento esse, que deixa direta e indiretamente de fora quem mais interessa!