Os blogs e o medo...

Já disse aqui uma vez que o jornal O Globo mais parece o mar da Austrália, infestado de tubarões. Um dos grandes é Ali Kamel. Chatinho como ele só, na última terça feira publicou um artigo contra a prática de disponibilizar conteúdos free na net, e contra a suposta apropriação das notícias das grandes agências jornalísticas internacionais por blogueiros.

Vamos por partes. Ainda que o publico leia um artigo crítico num blog, se ele não estiver informado sobre o assunto, vai boiar. Ou seja, as informações básicas sobre por exemplo as eleições iranianas, ele buscará nos jornais impressos ou em sites com matéria disponibilizada gratuitamente, como por exemplo o site do próprio jornal O Globo. Ou seja, ninguém deixar de ler jornal porque lê blogs. Também não vejo onde o blogueiro rouba informações, pois se os sites das grandes redes jornalísticas disponibilizam conteúdo on-line livremente não há roubo nenhum aí, o blogueiro apenas escreve sobre um assunto que foi ou está sendo noticiado. Se o Globo, Folha, Estadão e etc. sentem-se lesados, sugiro que acabem com suas paginas de notícias, pois essas muitas vezes são fontes para o conteúdo dos blogs.

Kamel não é bobo, o que o deixa mordido, assim como aos seus coleguinhas de profissão, é o fato de vários blogs darem uma interpretação dos fatos políticos e sociais narrado por tais agências, diferente da interpretação das grandes mídias e também pelo fato de que boa parte dos blogueiros lidos não são jornalistas, são pessoas comuns que estão exercendo seu direito de crítica, antes restrito aos órgãos de imprensa.

Sim, boa parte dos blogueiros bebem na informação dos grandes jornais, e em outras fontes, mas suas criticas diferem muito do que dizem os tubarões da imprensa, e limitar o direito de escrever sobre o que ocorre no mundo e se torna notícia nos jornais é o mesmo que proibir discussões e conversas a respeito das matérias, pois é isso que o blogueiro faz. A diferença das conversas levadas em filas e pontos de ônibus, ou no trabalho, ou na faculdade e etc é que o blog é público e o alcance da internet é ilimitado, qualquer um pode entrar e ler o que quiser, sem pagar nada, então a conversa de ponto de ônibus que é entre duas ou três pessoas se torna uma grande discussão, e se não, pelo menos a semente foi lançada muito mais longe. É quase o mesmo que se falar numa rádio aberta. Aí o bicho pega, não é?!

Não é apenas uma questão financeira, no que diz respeito a existência dos blogs, nem mesmo uma questão de concorrência. A Internet se tornou uma ferramenta muito importante na disseminação de idéias, o problema é quando essa disseminação foge ao controle e acaba ferindo interesses financeiros e ideológico dos grandes, e balançar o alicerce institucional e a credibilidade da grande imprensa.

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Ironicamente, no mesmo dia 16 de junho, saiu no Globo artigo do Frei Beto sobre o projeto de lei de autoria do governo federal encaminhado ao congresso solicitanto o acesso a arquivos secretos da ditatura militar de 1964. Segundo Frei Beto, a abertura de tais arquivos possibilitará a criação de um portal onde as famílias das vítimas poderam obter informações sobre pessoas desaparecidas. Também será um grande oportunidade para os pesquisadores do tema, que acharão vasto material de pesquisa, e uma grande oportunidade para a sociedade conhecer mais um pouco sobre esse período sombrio de nossa história, que ao contrário do que muita gente deseja, não deve ser esquecido sem que os devidos culpados sejam punidos, ou sem que a memória daqueles que lutaram e morreram por uma sociedade mas justa seja limpa e edificada.