Outro dia, fiz um comentário no blog da minha amiga Sâmia. Era sobre o feriado de Zumbi e a forma como o movimento negro associa sempre as religiões afro-brasileiras às pessoas negras, sendo que boa parte da população negra no brasil é, na verdade, evangélica. No meu comentário eu tentei justificar a postura do MN dizendo que eles constroem esse discurso com o intuito de valorizar as religiões afro-brasileira, que inegavelmente são vistas pela sociedade com bastante preconceito.
Não sou profunda conhecedora das ações do movimento negro e uma de suas principais bandeiras levantadas nos últimos anos, o das cotas raciais nas universidade, eu sempre fui contra, pois penso que o que divide fundamentalmente as pessoas nesse pais é a pobreza, o que não quer dizer que não exista preconceito racial e discriminação em todas as classes sociais. O que impede um pessoa pobre de chegar a universidade, se ela desejar dar continuidade aos estudos, não é ser negro, é ser pobre, é possuir um historico educacional deficiente, é ter estudado a vida toda em escolas ruins e aos 18 ter de fazer uma prova com um monte de conteúdos que nuca viu - e porque não dizer, o próprio vestibular que impõe um padrão de conteúdo de escolas de elite. Ninguem é barrado no dia do vestibular porque é negro. Ocorre que a maior parte da população pobre é negra e isso por motivos históricos. Então, se é para existir cotas, o mais justo para todo mundo é que elas contemplem os estudantes provenientes de escolas públicas e renda familiar baixa.
Mas ontem eu entendi o que a Sâmia quis dizer. No hall do elevador no IFCS, onde estudo, há um cartaz sobre um seminário a respeito da criminalização dos movimentos sociais. A imagem do cartaz mostra uma pessoa negra, algemada com o olho roxo e no pescoço aquela placa que os fichados pela policia colocam para serem fotografados, e no espaço "nome" estava escrito "movimento social". Então, espera aí, quer dizer que as pessoas que integram movimentos sociais são apenas os negros, que a única luta dos movimentos sociais é contra o preconceito e a discriminação que inegavelmente existe na nossa sociedade, ou será que o movimento negro é o único movimento social deste país?
Tendo a concordar com minha amiga e meu querido Argonalta, segundo o qual é extremamente empobrecedor para a própria discussão e valorização da cultura negra e, eu incluo, para a discussão sobre os movimentos sociais, essa polarização. Realmente, acaba-se criando estereótipos e forçando uma identidade ideal e até maniqueista, que não existe, que não tem nada a ver com a realidade.
Lembro-me das palavras do Mozart, um amigo, que coordenou por muitos anos o pré-vestibular comunitário de Oswaldo Cruz. O pré-vestibular de Oswaldo Cruz não é apenas para negros pois isso excluiria os não negros, não é para carentes, porque a palavra carente possui um sentido de fraqueza, dependencia e falta de autonomia. O pré-vestibular comunitário é para toda a comunidade, feito pela comunidade, voltado para todo cidadão que deseja estudar, mas não tem meios.
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