22.12.08

Dias de Kafka

Existem algumas situações que lembram filmes, músicas e livros. Pois é... Semana passada passei por uma assim. Nunca pensei que seria tão complicado e teria que literalmente brigar para que uma nota (de matéria cursada há um ano, regularmente) aparecesse no meu boletim e finalmente eu conseguisse me formar. O detalhe sórdido (!): eu já estava correndo atrás do prejuízo há seis meses, falava com um, falava com outro e nada. Aos 45 do segundo tempo, nem mesmo a informação de que precisava colar grau com urgência, pois perderia um emprego, fazia a burocracia menos burra.

Não vou ficar detalhando aqui meu périplo pelos porões da burocracia, mas tenho que dizer que me senti como um personagem de Kafika! Ora o personagem de "O Castelo", imerso em papeis e diversas informações que vão lhe chegando não se sabe de onde, não se sabe a origem; ora como em “O processo”, tentando entender e explicar uma situação mas ninguém parece escutar ou querer entender; e algumas vezes como a barata de “A metamorfose”, reduzida a nada, apenas um inseto arrastando-me entre pessoas detentoras de um pequeno poder – aquela possibilidade de dizer um “não”, ou “não podemos fazer nada” – e uma sede muito grande em exercê-lo em sua totalidade.

Felizmente tudo acabou bem e posso dizer que estou de férias, embora isso seja muito estranho – há muito tempo que não sei o que é tirar férias – , essa sensação de não ter obrigações com a faculdade ainda me é estranha e hoje passei o dia procurando o que fazer, correndo entre um livro e outro, como um cachorro perdido procurando o dono; ou como as pessoas que perdem um membro, mas ainda o sentem. Essas sensações vão desaparecer, mas a sensação de estar esmagada e imobilizada pela burocracia, tantas vezes objeto das letras kafkianas, isso eu vou demorar para esquecer.


* Sei que nem todos os burocratas são inconsequentes e nesse processo cruzei com algumas pessoas que trabalham de forma muito correta e consciente. Entretanto, vamos concordar que esses são uma raridade.


** O conto que mais gostei de Kafka foi "A Metamorfose". Comprei o livro numa loja de "1,99" na Ramalho Ortigão, perto do IFCS, há uns 10 anos, exatamente por R$ 1,99 (rs...), porque gostei da sinópse na orelha do livro. Era uma edição popular de clássicos, dessas que juntando mais alguns reais ao jornal de domingo pode-se levar o livro.Naquela época nunca tinha lido nada do autor, e nem sabia que ele era uma referência. Foi amor à primeira frase. Infelizmente eu não o tenho mais, foi-se, emprestado junto com um cd do Taiguara.




2 comentários:

Da Silva disse...

Sábia é a vovó que sempre disse que livro é uma coisa que não se empresta.

Romanzeira disse...

Oi Ogro! Poi é sábia era a sua avó e a minha, que me diz isso até hoje, pois eu continuo emprestando...

abraços e até mais!