
Na semana passada dois sobrados antigos pegaram fogo no Largo de São Francisco. Primeiro um e mais ou menos 48 horas depois o outro. Há cerca de um ano, mais ou menos, um outro sobrado na mesma rua (Rua do Teatro) também pegou fogo. Esses acontecimentos me Fizeram lembrar


Entre o final do século XIX e a primeira metade do XX, sob o signo da “modernidade” os principais morros da cidade vieram abaixo. Com mais destaque o Morro do Castelo, berço da cidade do Rio, que abrigada o antigo Colégio dos Jesuítas, do qual restou apenas a ladeira da Misericódia, entre o Museu Histórico e a Santa Casa, próximo ao terminal de ônibus da Praça XV. Durante os anos 30, a Praça XI, reduto do samba, para dar lugar a Av. Presidente Vargas, e mais uma série de sobrados e igrejas. Dos antigos morros sobre os quais se ergueu a cidade restou apenas parte do Morro de Santo Antônio e o Morro da Conceição, próximo a praça Mauá. Um outro monumento da nossa cidade quase foi ao chão. Em 10 de dezembro de 2009, por conta de uma obra colossal no cruzamento entre a Inválidos e a Visconde de Rio Branco, a igreja de Santo Antônio do Pobres, contando duzentos anos de vida, ganhou uma rachadura enorme não piso e na parede. Gradativamente vamos assistindo a descaracterização da cidade e o desaparecimento de verdadeiros monumentos que contam um pouco de sua história - na maioria das vezes sob o consentimento das autoridades.
Foi lançado em 2009, um megaprojeto de revitalização da região da Praça Mauá, nele está a possibilidade de demolir o viaduto da Perimetral. Nada contra, a Praça Mauá e seu entorno também tem história e merece ser reabilitada. Além de se configurar como patrimônio histórico, há famílias residindo no local, famílias que merecem ruas limpas, segurança, iluminação; há comércio, lojistas. Em fim, todo mundo merece qualidade de vida e oportunidade de fazer negócio, mas me deixa muito triste que a área do Saara, da Rua dos Inválidos, Campo de Santana, Largo de São Francisco e etc, com uma concentração maior de prédios antigos, de monumentos históricos, esteja, há muito, esquecida pelas autoridades; me entristece que o viaduto da Perimetral só seja demolido na parte referente a Praça Mauá e não em toda sua extensão, o que deixaria livre a vista que se tem da Baia da Guanabara na Praça XV. Realmente os grupos empresariais não se interessariam por uma região com pouca ou nenhuma possibilidade de crescimento urbano. Um local que a própria arquitetura e desenhos das ruas deve ser respeitados por questões de memória e patrimônio limita as possibilidades de negócios. Mas se não é possível atrair a capitais particulares, é necessário ver a mão da prefeitura, ou seja, do poder público, no local.
Tudo muda na vida, o espaço urbano também vai mudar, ou por conta das necessidades da sociedade ou por conta de interesses financeiros – geralmente, muda mais por conta desses e, como já disse, com apoio dos órgãos oficiais, sejam eles do estado ou do município. É ingenuidade pensar que se pode manter a cidade com suas construções inalteradas, entretanto não se pode abrir mão de sua memória, negligenciar a importância histórica de determinados regiões que ainda preservam resquícios de como a cidade era em tempos muito antigos. A cidade não nasceu hoje, ela nasceu há 500 anos atrás, preservar sua historia e sua memória através das construções antigas que restam, é uma questão de identidade e cidadania.
(Trecho restante da Ladeira da Misericórdia, uma das entradas do Morro do Castelo)
*2a. Foto: Rua Luiz de Camões, à direita do Instituto de Filosofia e Ciencias Sociais. Foto: Viviane Magalhães. 2004.
6 comentários:
Nossa, uma lastima, mesmo. Deveria haver uma maneira mais eficiente de preservar o minimo da identidade e historia da cidade.
bjs
PS: Otimas fotos!
Oi, Carla! Menina, eu me pergunto no que os técnicos do IPHAN, ficam pensando que não percebem a importância do centro histórico do Rio! As vezes eu acho que para eles o mais importante é preservar igreja e obras barrocas! rs...
Fico eu, cá com meus botons, pensando: a área do centro entre o Campo de Santana e a Primeiro de Março, tem potencial econômico se explorado de outra forma, valorizando o patrimônio historico e tudo ao que ele remete. A prefeitura poderia dar insentivos fiscais específicos para bares, livrarias cafes, sebos, e todo tipo de iniciativa com teor cultural. Assim o Centro ficaria bem caracterizado como uma áreal antiga preservada e com atrações culturais. É outro tipo de marketing, voltado a valorização da cultura, da memória, do patrimonio historico e cultural. Atrairia tanto cariocas quanto turistas. Mas a cabeça dos administradores publicos pensam de outra maneira...
* * * *
Obrigada pelo comentário sobre as fotos! Valeu!
bj.
É uma tristeza mesmo. E não quero nem imaginar o que pode ter acontecido a essas regiões do Centro depois das últimas fortes chuvas...
OI, Samia!A cidade inundou como sempre - na verdade, como sempre não, inuncou mais que o normal! - mas não houve notícia de prédio tombado indo a baixo por conta da chuva.
Em compensação, a fonte da saudade, uma fonte do século XIX, que ficava dentro de um condomínio em Botafogo, foi demolida por órdem do sindico, pois ele queria fazer uma obra no condomínio. É mole?! Isso saiu semana passada no jornal.
Ué, Vivi. E pode isso???
Se não for tombado, fica a critério da consciencia de cada um. Infelizmente as coisas são assim, Samia...
Esta semana mesmo, li no jornal que as pedras portuguesas de um trecho da R. do Lavradio foram "britadas"! A calçada seria alargada para se construir uma baia para ônibus. Na mesma calçada há arvores enormes - imagina so o que deve ter acontecido com elas...
Se continuar desse jeito a gestão Eduardo Paz será mais eficiente que a gestão Maia na descaracterização da cidade e do espaço urbano.
bj.
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