18.10.09

Aborto e escolhas...

A vida é feita de escolhas. Sim, a gente escolhe qual roupa vai vestir, que profissão vai seguir, quem vai namorar, com quem vai casar, se vai ou não ter filhos e etc... As unicas coisas que escolhem para a gente é se vamos realmente nascer e qual será nosso nome. Andei pensando nisso porque tenho lido alguns textos de blogueiras (a maior parte que escreve é mulheres, por motivos óbvios) sobre o aborto. Há algum tempo eu era terminantemente contra, hoje já não sou, penso que é uma decisão íntima, pessoal e cabe a mulher tomá-la. Entretanto algumas colocações e argumentações me incomodam muito por conta do radicalismo e da aparente frieza e individualismo com que tratam o tema. Quando se discute o aborto se está falando de pessoas, de gente. Eu fico muito, mas muito puta mesmo, quando leio textos em que o autor se refere ao feto como "coisa" ou "aquilo", espera aí, a "coisa" é uma pessoa, que querendo ou não, está em formação. Um aborto não envolve somente o corpo da mulher, envolve também uma vida que já existe e que vive do corpo dela. Só estou colocando isso porque acho muito leviano so discutir o problema do ponto de vista da mulher, evocando somente o seu direito e esquecendo-se de que está em jogo uma vida, O que me incomoda é a argumetação, o discurso.
Sou favorável a discriminalização do aborto porque ele já é praticado ilegamente por um número enorme de mulheres pelos mais variados motivos e porque é uma decisão de cunho pessoal. Sou favorável porque enquanto mulheres de classe média são bem atendidas em clinicas clandestinas bem equipadas as mulheres pobres acabam fazendo aborto em verdadeiros açougues.
Entretanto, algumas questões surgem daí:
1. no caso do aborto ser legalizado, o SUS fara abortos também? Se vai fazer penso que deveria então ser agilizado o processo para a cirurgia de laqueadura de trompas, pois para fazer essa cirurgia é uma ciranda burocrática e, acreditem, há uma centena de mulheres tentanto fazê-la pelo SUS.
2. como fica o Estado nisso tudo? Oras, no nosso pais não há pena de morte e institucionalmente o Estado prioriza a manutenção da vida.
3. será que o aborto não se transformará em mais um métod anticonepsional? Muitas mulheres ficam grávidas por desconhecerem os metodos anticoncepcionais, ou não terem acesso a ele, ou seja, se isso não mudar o aborto pode se transformar em um metodo anticoncepcional.
4.muitas mulheres ficam grávidas por inconsequencia, então eu me pergunto: ela tem consciência do direito sobre seu corpo? ela tem consciência que um vacilo pode resultar numa gravidez e uma gravidez ou um aborto não é brincadeira, não são coisas esquecíveis?

Tratar uma gravidez, como a "coisa" ou "aquilo" é de uma insensibilidade absurda e acaba por desurmanizar a questão do aborto que é infinitamente humana, complexa, contraditória, meche com os sentimentos. Me deixa muito incomodada essa racionalização extrema a respeito de um assuntos que não é inteiramente racional.

Acho importante as pessoas pensarem nas conseqüências de seus atos e suas escolhas. A escolha entre ser mãe ou não, deve ser feita no momento em que a mulher inicia a vida sexual e isso só acontece se houver informação, educação sexual e a conscientização de que com a vida, seja a sua ou a do outro, que nem nasceu ainda, não se brinca. Isso sim é ser consciente não somente sobre seu corpo e seus direitos, mas ser consciente sobre a propria vida.

6 comentários:

Haline disse...

Romanzeira, a vida do feto é tratada de maneira secundária pq isso não é uma questão. Isso já está assegurado e imposto. Por isso a maior parte dos posts se refere a vida da mulher, que todo mundo esquece. Ela deve poder decidir. Não é defesa do aborto e sim, da decisão de ter ou não.

Outra coisa, não importa nem um pouco se a mulher é inconsequente ou não. Não acredito que nenhuma mulher queira, toda vez que for transar, logo depois fazer uma cirurgia. Isso é um argumento non sense. Ninguem quer fazer aborto, faz pq precisa.

"A escolha entre ser mãe ou não, deve ser feita no momento em que a mulher inicia a vida sexual". Fica parecendo que a mulher transa para ter ou não filhos, entende? Ela não tem que decidir nada. Tem que se previnir, claro. Alias, ela e o cara não? Não conheço nenhum homem que pense sobre ser pai quando inicia a vida sexual. Ter ou não filhos, é decisão dos dois. Chega de impor isso só a mulher, não acha?

Romanzeira disse...

Haline, sou completamente a favor da escolha, realmente é a mulher que deve decidir se quer ou não ser mãe e a maternidade não deve ser imposta, é o corpo dela, uai! Entretanto, eu acho que essa escolha não precisa ser feita quando já se está grávida, ela pode e deve ser feita antes. Como? Através da prevenção, com anticoncepcionais ou outro método, ou preservativo. Até porque o uso de camisinha não previne apenas uma gravidez indesejada, mas previne principalmente das DSTs da vida. A camisinha é o método anticoncepcional mais popular, barato e eficaz, está a venda em qualquer farmácia ou supermercado, por módicos R$ 3,50 o pacote com três preservativos.

A responsabilidade de se prevenir é tanto da mulher quanto do homem, mas “quem sabe faz a hora”. Se a mulher ficar grávida é ela que terá de decidir se vai levar a gravidez adiante ou não, essa não é uma escolha fácil e é uma escolha solitária, qualquer opção implica uma série de questões e responsabilidades futuras. É por isso que fiz a afirmação que vc citou, realmente eu me expressei mal, o que eu quis dizer, na verdade, é que deve-se começar a vida sexual com responsabilidade sabendo das conseqüências de seus atos. Sexo é bom, é maravilhoso, com responsabilidade sem o risco de tirar uma vida (sim, quando se faz um aborto, se tira uma vida) fica melhor ainda.

Minhas reservas sobre o aborto não são quanto sua legalidade, já deixei claro que acho que deve ser legalizado, minha questão é ética mesmo.

Anônimo disse...

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Mari disse...

Olá! Gostei muito do seu post, da visão humanizada e dúvidas que tens e trouxe para a discussão. Parabéns!
Tenho ue te dizer, em relação às suas perguntas que não, o aborto não será financiado pelo Estado, não há dinheiro para isso, já que custa muito dinheiro, a idéia base é que será nos moldes de outros países, ou seja, clinicas que cobrarão por isso, credenciadas pelo governo, o que não acabará com um dos grandes argumentos, que é mo de que as mortes por abortos mal feitos irão acabar. Isso não vai acontecer porque aberta a livre concorrência, o mercado negro continuará existindo, ou seja, as mortes irão continuar assim como nos países que já tem o aborto legalizado, como a Espanha, por exemplo.
Fora isso, a questão não é se existe vida ou não, outro argumento utilizado pelos pró abortistas, já que isso não interessa à legislação brasileira que adota a teoria concepcionista. A legalização do aborto, do ponto de vista do ordenamento jurídico vigente é inconstitucional. Só passaria, em último caso, com plebiscito popular, que é o que determina a constituição. Sou contra a legalização porque os argumentos utilizados não se sustentam, e não conseguem me convencer! São falhos, e eu continuo pensando como as grandes teorias levantadas: o aborto é a única forma de controle da pobreza, da prática da eugenia, por isso, tanta pressão!
Beijo.

Romanzeira disse...

Oi, Mariane. Pois é, eu não estou por dentro dos aspectos legais da questão, só penso que o movimento pró-aborto pensa o aborto de maneira muito abstrata. A gravidez é vista como uma "doença" e não como uma responsabilidade assumida pelo casal, de maneira consciente ou não. Valoriza-se somente a vida da mulher, como se o filho que ela espera tenha entrado em seu corpo por vontade própria.
Uma gravidez indesejada para eles parece não passar pela desinformação e falta de consciência sobre seu corpo, sobre formas de se previnir contra uma gravidez ou, pior, uma DST; pela desvalorização da mulher enquanto sujeito ativo e responsavel pela sua vida, pelo seu futuro.
Se a preocupação dos pró-aborto é a respeito das mulheres pobres que se veem na situação de fazer um aborto clandestino, penso que seria melhor concentrar esforços em exigir que o governo leve a frente uma capanha séria e permanente de educação sexual voltada para todas as idades, em varias frentes, tanto em posto de saude, como na televisão, rádio e internet. Até porque um programa de educação sexual não envolve questões ligadas a gravidez, mas sim questões relacionadas ao corpo, a vida sexual, e isso envolve a valorização dos sujeitos e do cidadão.
Acho um absurdo esperar a liberalização do aborto para iniciar um programa de educação sexual.

* * * *

Uma coisa me chamou atenção em seu perfil. Vc se define como "nada feminista". Olha, embora as feministas de carteirinha possam dizer que não, eu me sinto profundamente feminista mesmo sendo contra o aborto, pois o feminismo, para mim, não é apenas a luta pela sexualidade, mas sim a luta pela dignidade da mulher dentro da sociedade, a luta por direito igualitários entre homens e mulheres, a luta pela fim de uma cultura machista que penaliza e vitima mulheres, principalmente as mais pobres, em todo esse pais. So que essa luta, para mim, não pode impliar irresponsabilidade sobre nossos atos (o que inclusive pode nos custar a vida), nem a banalização da vida de outro que não pediu para estar ali.

Obrigada pela visita e esteja sempre por aqui.
bj.

Mari disse...

O "nada feminista" refere-se àqueles movimentos que perderam o fio da meada e acham que o feminismo significa apenas uma luta de braços entre homens e mulheres, mas claro que nesse sentido exposto por ti, concordo com tudo o que disse, e sobre o aborto também! Grande cabeça! Continue assim!
Beijos.