O treze...

Há trinta e dois anos atrás eu nasci, maternidade Carmela Dutra, em Madureira. Quando olho a foto dos meus pais e eu, no colo, fico assombrada. Fotos acabam sendo o testemunho da existência humana. É algo mais que a escultura, ou a pintura, é um retrato, reprodução idêntica, fiel de um momento. As vezes fico pensado o que eles -mais jovens do que eu sou hoje - pensaram para mim, naquele momento. Penso nos sonhos do jovem casal com a primeira filha no colo.
Em dias como o de hoje, fico pensando como a vida muda, como o tempo corre e os valores são outros. Eu nasci quando minha mãe tinha 22 anos, exatamente dez a menos que eu. É intrigante olhá-la na foto, tão diferente de mim quando tinha a mesma idade. Ás vezes me pergunto quais eram os sonhos e projetos da minha mãe. Nunca perguntei, isso não é coisa que filhos perguntem para os pais - não para pais com idade entre 55 e 60 anos - e ela não saberia responder, ficaria sem jeito.
Quando eu tinha 22 anos nem pensava em casar ou ter filhos, eu estava na faculdade, algo que eu sempre quis, sempre sonhei. Tinha um namorado, por quem eu era apaixonada, não me preocupava muito com o futuro e não me preocupava porque parecia que tudo já estava dado, que so existiam coisas boas. Quando se tem 22 anos vive-se sem pensar na vida, ou melhor só pensando na parte boa da vida, há uma certeza de que tudo dará certo, de que o futuro so guarda coisa boas é uma sensação continua de otimismo . Talvez por isso minha mãe na foto estivesse tão tranquila e feliz. A vida daria certo para ela e para a filha e o marido, a família que começava a se formar. Ela também tinha a certeza dos 22 anos.
Trinta e dois anos depois, aqui estou eu e às vezes me pergunto se eu sou o que eles esperavam de mim naquele momento.