24.3.09

Grandes Artistas...


Antes de qualquer coisa, quero dizer que assisto novelas. Sim, não há vergonha nenhuma nisso, sobretudo porque assistir novelas me rende bons momentos de riso e reflexão quando ao que é um bom texto, com bons argumentos, bom ritmo e bons atores e até mesmo quanto a importância cultural e social da telenovela no Brasil. A telenovela é um dos entretenimentos mais democráticos, pois passa gratuitamente na televisão aberta (que é uma concessão estatal), em três horários diários, de segunda a sábado, ou seja, é um entretenimento de massa feito para as massas. Como todo produto cultural tem uso ideológico, e até por conta disso seu papel junto político na sociedade não deve ser ignorado como algumas pessoas gostam de fazer. Um outro ponto que acho importante também é que não é porque a telenovela é um entretenimento de massa que deve ser de má qualidade artística e textual. Infelizmente, já há algum tempo, incorporou-se a visão de que é "para massa, então vamos explorar o sentimentalismo barato, vamos explorar seu potencial ideológico, vamos utilizá-la política e economicamente" ao invés de aproveitar o espaço para contar boas histórias, com boa qualidade artística e cultural de forma respeitosa a inteligência do tele-espectador.
Mas essas reflexões mais intelectuais eu guardo para o final, pois gosto mesmo é de avacalhar com as tramas por exemplo da Glória Peres, e suas manias médicas e antropológicas, ou o Manoel Calos e suas cenas sem sentido algum e carregadas de clichês melodramáticos. Um outro dia eu falo mais desses dois - e vou falar da maneira mais infame possível!
Esta semana, passando os olhos por Paraíso, remake da novela homônima filmada pela mesma rede Globo, nos idos dos anos 80, não pude deixar de lembrar da maravilhosa Heloisa Mafalda. Heloisa Mafalda fazia a Mariana, mãe da “santinha”. Era uma personagem forte e ao mesmo tempo irritante, com suas crenças arraigadas, seu fanatismo religioso, sua beatice. Através deste caminho o público da cidade tomava contato com o tipo de religiosidade e o tradicionalismo que prevalecia no interior. Cristina Mullins, interpretava a “santinha”, filha de Mariana, que segunda a mãe realizava milagres quando criança. Contida e angustiada, a personagem passou a novela inteira dividida entre obedecer a mãe, ou seja, obedecer a tradição, e tornar-se freira, ou ir atrás de seu grande amor o Zeca, rompendo com a tradição. É claro que a novela tinha uma bobagens e talvez a maior delas fosse a escalação de Cadu Moliterno, galã do momento, para interpretar o Zeca, suposto “filho do diabo”, e outras tramas paralelas sem muita importância.

Mas a interpretação de Heloisa Mafalda me marcou muito, e é impossível não fazer comparações com a Mariana de Cássia Kiss. Infelizmente Cássia, uma boa atriz, sem dúvida, oferece ao público uma Mariana caricata e artificial, sem conexão nenhuma com a mulher religiosa, beata, e crente que Heloisa Mafalda incorporava. Não sei se o problema é da atriz, mais parece um problema da concepção da trama de maneira geral. Se na primeira versão de Paraíso, o romance entre a “santinha” e o “filho do diabo” era uma metáfora para contrapor tradicionalismo e modernidade, bem no clima dos anos 80, a nova versão da novela é apenas um folhetim água com açúcar, cheio de situações clichês inspiradas em comédias filmes românticos norte-americanas, que diferem das novela mexicanas apenas na quantidade de rímel e laquê utilizada por suas protagonistas.


Uma outra grande artista é Nívea Maria. Na cena em que a filha sai de casa para fugir com o namorado contra as tradições e a vontade da família, é de arrepiar. A atriz consegue expressar através do olhar e do tom de sua voz durante as falas, todo o desespero de uma mãe que acredita que sua filha esta jogando seu futuro e sua vida fora. Mesmo contracenando com a péssima Juliana Paes, e defendendo um texto melodramático característico das tramas de Peres, ela deu um show de interpretação.



2 comentários:

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Claro que não é vergonha nenhuma gostar de assistir novelas. Aliás, a gente não deve sentir vergonha de gostar de fazer nada que não seja prejudicial às outras pessoas.

Eu, particularmente, faz uns 10 anos que não assisto novelas. Perdi a paciência. Não sei se foi meu senso crítico que ficou mais apurado ou foi o pessoal que piorou, mas chegou um momento em que comecei a achar tudo que eu via, de muito má qualidade. Atores que eu admirava passaram a me parecer absolutamente canastrões e despreparados. Aos poucos, ficou impossível assistí-las, sem ficar o tempo todo criticando. Resolvi parar de assistir. Aliás, vejo, cada vez menos TV. Consumo meu tempo livre muito mais com a leitura do que com a TV. Nem sei se existe uma escolha certa, mas é isso que me dá muito mais prazer.

Romanzeira disse...

Oi, Arnaldo! Bom, eu não fico socada assistindo todas as telenovelas da tv não, nem deixo minhas obrigações e outros divertimentos como a leitura, ou um cinema, ou uma saída com amigos para ver novelas não, mas vez por outra eu vejo uns capítulos.
Talvez vc tenha essa sensação de que os atores são medíocres porque, os textos estão muito medíocres, as histórias cada vez piores e mal elaboradas, cheias de furos e clichês. Mas trabalhar na televisão garante um salário mensal certinho, garante publicidade e aposentadoria. Então os artistas se sujeito a fazer papéis muito a quem de seu talento por uma questão de sobrevivência.