12.1.09

Choque!!!

O Rio de Janeiro começou o ano com o novo prefeito querendo mostrar serviço. Uma de suas primeiras iniciativas foi a operação “Choque de ordem”, objetivando resolver o problema da desordem urbana. Um dos principais pontos deste “choque”, quiçá o principal, é retirar a população que mora nas ruas e enviá-lás a abrigos e assim tornar a cidade mais limpa, segura e organizada. Pronto! The end! Final feliz!

Mas há uma pergunta que não quer calar: e os ex-moradores de rua? O que acontece com eles depois que vão para os tais abrigos? Como são esses abrigos? Qual seu objetivo? Dar um prato de comida, um lugar para passar a noite, ou oferecer assistência social e psicológica.

Operações como a “Choque de ordem” não são novidades. Durante o finado governo César Maia, várias vezes a combi da prefeitura passava recolhendo moradores e meninos de rua da Lapa. Uma ou duas semanas depois, todos estavam de volta. E por que voltam? Um dos motivos é que não há uma política pública séria no sentido de realmente saber o que acontece com essas pessoas, por que elas estão morando na rua e como resolver esse problema, como assisti-las para que elas definitivamente não voltem a morar na rua. Ou seja, nunca houve uma política voltada para os moradores de rua mas sim políticas que visam apenas tirá-los das vistas dos turistas, da classe média, deixar a cidade limpar, segura e organizada.

O problema do aumento da população de rua é social, isso e fruto das desigualdades e relações de poder que permeiam nossa sociedade. A população de rua é variada, há pessoas que foram morar na rua por falta de moradia, pouco dinheiro para pagar um aluguel, desemprego; pessoas que vieram de outros estados tentar a vida no Rio e ficaram desempregadas sem condições de pagar um aluguel, nem de voltar para sua terra. Outras, foram parar nas ruas por problemas psiquiátricos, ou problemas familiares. Muito provavelmente, há foragidos da justiça entre eles, o que não quer dizer que todos os moradores de rua sejam delinquentes e marginais.

É obvio que seu crescimento assusta exatamente porque não se sabe quem é quem, não se sabe o que esperar de pessoas que vivem na rua sujeitas a todo tipo de brutalidade e se embrutecendo a cada dia. O que a prefeitura tem que fazer é tentar ajudar essas pessoas, dar-lhes um tratamento digno, elaborar políticas que tenham o objetivo de reintegrá-las as suas famílias, saber a história de cada um e não recolhê-las e jogá-las num abrigo, como se fossem um lixo jogado para de baixo do tapete.

A existência de moradores de rua é inerente à existência de uma grande cidade, sempre existirá. Entretanto, tendo em vista que essas pessoas também são cidadãs, e acima de qualquer coisa, são pessoas, as autoridades tem a obrigação humanitária de fazer algo em favor delas, e não contra elas.

7 comentários:

Carla S.M. disse...

Viviane,
O Rio "cartão-postal" não ilude nem turista. Há quantas e quantas décadas, governo após governo, a pobreza, miséria, desemprego e violência no Rio são jogados para debaixo do tapete? Mais do que descaso do governo, há um descaso do cidadão comum, que não cobra mudanças mais drásticas e objetivas, pois (como aquele famoso morador da Barra do outro dia)está mais preocupado em ver as ruas "limpas" e a "sujeira" ser mandada para "longe dos olhos".

Romanzeira disse...

Oi Carla,

Com toda certeza várias pessoas acham as ações reacionárias da prefeitura a coisa mais certa do mundo, basta ver os comentários na pagina do globo on-line. Todos querem os moradores de rua fora de suas vistas, é ai que está o problema. Por conta desse tipo de pensamento, de atitude é que as coisas são como são.
É triste e irritante tudo isso.

Mauro Sérgio Farias disse...

É impressionante como a miséria é tratada como uma mera questão paisagística.

A nossa situação econômica calamitosa é que faz surgir a desordem urbana, com seus pivetes, camelôs e mendigos. Mas ninguém vai na causa, combatem só as consequências.

É complicado.

Zerfas disse...

Oi Vivi!
Infelizmente, como o Mauro Sergio disse, só se combate as consequencias, sem ter o cuidado em se avaliar as causas. Isso ocorre com as favelas, os camelos e todas ditas ocupações irregulares. Quem tem dinheiro para comprar o espaço, que em algum momento era ilegal e agora é legal, graças a esse poder de comprar, que é diferente do poder de uso, esse capitalista consegue achar que tudo que não tem poder de compar algo para ser expulso do seu espaço "publico".....

Jurandir Paulo disse...

Pois é. A política para com a população de rua é feita para a população que usa eventualmente a rua, em seus carros, na saída ou chegada a seus eventos. O que fazem é tirar as pessoas deste incômodo das outras. Logo elas voltarão, e têm motivos para o retorno. Nada é feito para resolver as motivações dos que vivem sem casa, morando com cobertor de papelão. Esta solução é mais embaixo. Sou pessimista que em um voto vamos conseguir dar solução.

Romanzeira disse...

Gente, devo aqui abrir um parentese, uma informação que so fiquei sabendo depois que escrevi o artigo. Na secretaria de assistencia social da prefeitura há um trabalho muito sério no sentido de assistir a população de rua de forma mais digna, mas como disse o Jurandir, as causas não são combatidas e a resolução é mais em baixo.
De qualquer forma, isso já alguma coisa, se comparado a tempos atrás quando as pessoas eram recolhidas a força e jogadas em fazendas modelos.
Agora o que revolta mesmo é a opião das pessoas. Se puderem dêm uma espiada nos comentários do globo on-line. É um mais reacionário que o outro e aposto que tem um monte de eleitor do gabeira aplaudindo de pé o "choque".

Jurandir Paulo disse...

Pois é, me dá muito medo os comentários do globo online. As vezes percebo o clamor de um eleitorado pedindo um Hitler para sair queimando favelado.