
No início de setembro, participei de um workshop sobre mediação em centros e museus de ciências, organizado pelo Museu da Vida, Fio-Cruz. Evento interessante onde muito se falou em educação, inclusão social, divulgação e difusão da ciência e cidadania.
Desde que comecei a trabalhar nesse meio – faço estágio na Casa da Ciência, centro de ciência da UFRJ (centros de ciência são instituições que organizam, promovem e recebem eventos, entre os quais exposições, de divulgação científica; a diferença entre um centro de ciência e um museu é que o museu possui acervo próprio e o centro de ciência não) – eu me pergunto: por que não há a mesma mobilização no meio historiográfico? Por que não há uma mobilização dentro da academia no sentido de divulgar o que é feito no meio acadêmico e dessa forma popularizar a história, estimular o interesse da população em saber sobre seu passado, o passado da sociedade em que vivemos, como ela foi construída?
A questão é importante. Há apenas uma revista respeitável de divulgação em história, acessível ao grande público, que é a Revista de História da Biblioteca Nacional. As demais são revistas que patinam na visão romanceada e permeada pelos mitos da história. Um bom “advogado do diabo” diria “Bom, mas nas ciências exatas e naturais também só há uma boa revista de divulgação cientifica, que é a Ciência Hoje, editada pela UFRJ”. Sim, é verdade, mas existem diversos centros e museus de ciência no Rio e pelo país divulgando ciência; há acadêmicos na área das exatas e ciências naturais pensando sobre formas de divulgar e popularizar a ciência.
Infelizmente o mesmo não acontece nas faculdades de história. O que é pesquisado chega para o público através das redes de ensino, ao adotarem esse ou aquele livro e, às vezes, quando o professor ainda mantém vínculo com a universidade. Mas isso acontece com defasagem de anos. Na verdade, não há uma preocupação no meio acadêmico em escrever para o grande público, e eu me refiro não somente a professores, mas falo dos graduandos também. Isso que é algo muito triste, porque não compreendo qual o sentido de estudar algo sobre a vida das pessoas, se pensarmos em termos de sociedade, e o que foi estudado nunca chegar a essas pessoas, nunca retornar a essa sociedade, ou alcançar apenas uma parte privilegiada dela. Esse conhecimento que foi produzido acaba circulando apenas num determinado espaço, o espaço dos especialistas ou dos eruditos, e com o tempo torna-se estéril pois não tem sentido social algum. Não estou dizendo que o conhecimento deve ter utilidade, não é isso, só estou dizendo que seriam muito mais gratificante se boa parte da sociedade pude compartilhar do conhecimento produzido com paixão – bom, tem que ter muito tesão para passar quatro anos da vida produzindo uma tese de doutorado – dentro dos meios acadêmicos.
Acredito no conhecimento e na história para a percepção de nós mesmos dentro da sociedade e no mundo e para a mudança – sim, está fora de moda pensar assim, mas eu sou fora de moda mesmo, e penso dessa forma – acredito que só nos conhecendo e tendo consciência de nosso lugar na sociedade podemos mudar essa sociedade para o que desejamos, para uma realidade mais justa. O conhecimento só poderá ser instrumento de mudança quando for democratizado, quando todos tiverem acesso a ele. Enquanto ficar trancado dentro das instituições, como livros que ninguém lê, esse conhecimento será apenas ferramenta para a manutenção das desigualdade sociais e para a manutenção do poder entre poucos.
Desde que comecei a trabalhar nesse meio – faço estágio na Casa da Ciência, centro de ciência da UFRJ (centros de ciência são instituições que organizam, promovem e recebem eventos, entre os quais exposições, de divulgação científica; a diferença entre um centro de ciência e um museu é que o museu possui acervo próprio e o centro de ciência não) – eu me pergunto: por que não há a mesma mobilização no meio historiográfico? Por que não há uma mobilização dentro da academia no sentido de divulgar o que é feito no meio acadêmico e dessa forma popularizar a história, estimular o interesse da população em saber sobre seu passado, o passado da sociedade em que vivemos, como ela foi construída?
A questão é importante. Há apenas uma revista respeitável de divulgação em história, acessível ao grande público, que é a Revista de História da Biblioteca Nacional. As demais são revistas que patinam na visão romanceada e permeada pelos mitos da história. Um bom “advogado do diabo” diria “Bom, mas nas ciências exatas e naturais também só há uma boa revista de divulgação cientifica, que é a Ciência Hoje, editada pela UFRJ”. Sim, é verdade, mas existem diversos centros e museus de ciência no Rio e pelo país divulgando ciência; há acadêmicos na área das exatas e ciências naturais pensando sobre formas de divulgar e popularizar a ciência.
Infelizmente o mesmo não acontece nas faculdades de história. O que é pesquisado chega para o público através das redes de ensino, ao adotarem esse ou aquele livro e, às vezes, quando o professor ainda mantém vínculo com a universidade. Mas isso acontece com defasagem de anos. Na verdade, não há uma preocupação no meio acadêmico em escrever para o grande público, e eu me refiro não somente a professores, mas falo dos graduandos também. Isso que é algo muito triste, porque não compreendo qual o sentido de estudar algo sobre a vida das pessoas, se pensarmos em termos de sociedade, e o que foi estudado nunca chegar a essas pessoas, nunca retornar a essa sociedade, ou alcançar apenas uma parte privilegiada dela. Esse conhecimento que foi produzido acaba circulando apenas num determinado espaço, o espaço dos especialistas ou dos eruditos, e com o tempo torna-se estéril pois não tem sentido social algum. Não estou dizendo que o conhecimento deve ter utilidade, não é isso, só estou dizendo que seriam muito mais gratificante se boa parte da sociedade pude compartilhar do conhecimento produzido com paixão – bom, tem que ter muito tesão para passar quatro anos da vida produzindo uma tese de doutorado – dentro dos meios acadêmicos.
Acredito no conhecimento e na história para a percepção de nós mesmos dentro da sociedade e no mundo e para a mudança – sim, está fora de moda pensar assim, mas eu sou fora de moda mesmo, e penso dessa forma – acredito que só nos conhecendo e tendo consciência de nosso lugar na sociedade podemos mudar essa sociedade para o que desejamos, para uma realidade mais justa. O conhecimento só poderá ser instrumento de mudança quando for democratizado, quando todos tiverem acesso a ele. Enquanto ficar trancado dentro das instituições, como livros que ninguém lê, esse conhecimento será apenas ferramenta para a manutenção das desigualdade sociais e para a manutenção do poder entre poucos.
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Um início de mudaças começa a ser percebido no laboratório de história antiga - LHIA - da UFRJ. O LHIA, sempre teve uma postura muito bacana no sentido de dar suporte ao estudante. Divulgando e promovendo eventos, cursos, inclusive cursos instrumental de linguas. A professora Regina Bustamante, organizou uma oficina com alunos da graduação, com o sentido de aproximar o "fazer história" do público estudantil. Como é uma idéia nova e experimental as atividades didáticas são aplicadas em grupo de alunos do CAP, da UFRJ. A primeira oficina foi sobre moedas, feita com a ajuda do Museu Historico Nacional, situado na praça XV, que possui uma fantástica coleção de moedas antigas. A segunda será sobre cerâmicas e contará com a parceria com o Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, que possui em seu acervo a coleção de cerâmicas doada ao museu pela Impertriz Teresa Cristina, esposa de D. Pedro II. É um trabalho muito bonito, que, como já disse, está em fase experimental mas no futuro pode render bons frutos se for igualmente aplicado em outras escolas, com realidade diferente da do CAP.
*1a. imagem: capa do livro Apologia da Historia. Ou o ofício do Hitoriador, de Marc Bloch. Um dos meus livros preferidos.
*2a. imagem: folder do LHIA para sua segunda oficina, a qual tem como tema as cerâmicas antigas e conta com a parceria do Museu Naciona da Quinta da Boa Vista.
3 comentários:
Oi vivi!!
Assimo como vc, trabalhamos dentro de um espaço desmistificador, diferente de um museu simples. O que acontece com a historia esta acontecendo com quase todas as ciencias. Eu digo isso por conta que trabalho num comite de etica e pesquisa com seres humanos e dá pra perceber que o conhecimento que é produzido dentro do meio academico ( mesmo não sendo a academia em si) continua num espaço hermetico onde poucos tem acesso as grandes discurções e os trabalhos realizados.
como proto geografa sinto que os cursos das areas humanas de forma geral tem sofrido mais esse processo de "trancamento" do conheciemtno produzido ou para no tempo no processo de discução de epsitemologia cientifica.
A pergunta q eles ainda fazem é o que é ciencia humana ? como o que só se vale-se as tecnologica. que façamos a mudança
O LHIA mudou de nome???
E,cara, tanto os historiadores não se preocupam com o leitor não especialista, que vem o Eduardo Bueno e vende bicas com aquelas porcarias dele.
E depois encena quadro do Fantástico.
Por essa e por outras, penso na França. Dizem que por lá as pessoas lêem livros de História - produzidos por historiadores - no metrô. Acredito quando brincam que só lá os historiadores são felizes...
Infelizmente.
AhHHHHHHHHHHH, eu sempre confundo as siglas!!! E não foi a primeira que escrevi errado nesse texto. Mil perdões e já está corrigiada. Ainda bem que ninguém do LHIA esteve por aqui! hehehe
Bom, nosso conhecido professor de Historiografia do IFCS, disse, em uma de suas aulas, que sim, na França existem várias publicações sobre historia a venda na banca de jornal. Aqui também tem, a diferença é que são poucas e a qualidade é meio duvidosa, outro ponto é o fato de que a maior parte de seus artigos ser escrita por jornalistas e não historiadores.
Ai, realmente os jornalistas acabam preenchendo um espaço que poderia e deveria ser nosso. Mas a questão não é nem de corporativismo, eu acho que é imprescindível a comunicação entre o meio acadêmico e a sociedade no sentido de democratizar a informação e o conhecimento, so que os acadêmicos não pensam muito sobre isso.
Isso é assunto para vários posts.
Valeu o toque, Samia. bjim.
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