15.1.08

Comentários de cinema...



Tenho andado sem tempo para escrever, pois estou terminando minha monografia – pois é finalmente após anos eu vou me formar! – e por isso, muito concentrada. Só penso nela, acordo e durmo pensando nela, como e lavo a louça pensando na dita. Isso já me custou uma dor crônica nas costas e pelo menos três quilos a mais do que eu tinha. Mas nesse último sábado assisti um filme que não posso deixar de comentar.
A TVE – agora TV Brasil –, o canal estatal, exibe sábado, à meia noite, o programa Cadernos de Cinema. Primeiros eles exibem um filme brasileiro, e depois tem um debate geralmente com um participante do filme, seja artista, ou alguém da produção, ou direção, e outros convidados, como jornalistas, críticos, e até mesmo sociólogos, dependendo do filme. Há muito tempo eu não assistia o programa por conta do horário e dos filmes que andaram rolando, mas no sábado, pulando de canal em canal, acabei parando na TV E, quando me deparei com a imagem do Antônio Fagundes em sua melhor forma. Tratava-se de “A próxima vítima”, um filme rodado em São Paulo nos idos dos anos 80, provavelmente era 82, ano da eleição para governador. Lembro dessa eleição como se fosse hoje, porque minha avó e quase toda a família iam voltar no Brizola, e eles só falavam nisso, era como se fosse uma libertação, uma volta ao tempo antes do golpe. Meu pai, que nessa epoca trabalha numa fábrica de tecidos em Caxias e estava envolvido com o sindicalismo, era o mais entusiasmado.

Fagundes é Davi, reporte de uma rede de tv que está cobrindo, a contragosto pois preferia cobrir as eleições, o caso de um maníaco que mata prostitutas no bairro do Brás. Esse é o trampolim para falar de uma série de questões políticas e sociais que estavam em ebulição na época, como abertura política, poder policial, repressão e descaso das frações de classe que vivem a margem da sociedade, do sistema. A medida que vai se investigando começa a relativizar seus valores políticos e a própria perspectiva de mudanças tão evocada com a abertura política e a eleição eminente. Em meio a isso tudo, Davi (personagem de Fagundes) se envolve com Luna (Maiara Magri), jovem prostituta, que acaba se tornando um dos alvos do assassino.
Tecnicamente o filme está ruim, a imagem gasta e desbotada, o som é horroroso, mas no conteúdo é bom pra burro – talvez um pouco longo, com algumas cenas desnecessariamente longas, que dão a impressão de que o roteiro vai se perder, mas depois que o filme engrena, fica muito legal. E apesar da qualidade das imagens, elas contribuem para o clima fatalista que perpassa todo o filme.
A parte que eu mais gostei, foi quando Davi, pergunta ao porteiro o motel onde as prostitutas trabalham, se ele sabe quem é o assassino, se já o viu, se é branco, preto, figurão. E o cara responde, depois de muito hesitar e de Davi já estar virando as costas e indo embora:

“Ele não é branco, nem preto, nem moreno, nem japonês. Ele é tudo isso. Não é um, são vários. Um mata, o outro acha graça e mata também. É assim”

Ou seja, ninguém se importa com quem está a margem do sistema, muito menos o próprio sistema.

Não é um filme brilhante, mas é bom e merece uma espiada.


Obs.: E o Fagundes está um "pitel"

3 comentários:

Anônimo disse...

Eu já vi esse filme - e na TVE. Era madrugada. É bom mesmo.

Anônimo disse...

Filmes antigos são sempre bons, eu gosto dos preto e branco na época da Atlântida, aquela avacalhação dos filmes estrangeiros, não existe filmes como aqueles rs.Beijuuss

Viviane disse...

Então, Klamber, é o Cadernos de Cinema esse programa.

Rafaela, eu não conheço muito os filmes da Atlantida não. Mas vou ficar de olho pra ver se passa alguma coisa na TVE.